A Copa e suas bruxas
Foto: Sven Hoppe/Getty Images
Bruxa boa x Bruxa má
Desde
muito cedo, crianças ainda, fomos apresentados a essa personagem que produz
medo, na maioria das vezes. Quase sempre. No antigo “Sítio Do Pica-pau Amarelo”, tínhamos a
figura da Cuca. Uma bruxa que era má, fazia suas travessuras, mas no final, ninguém do sítio se machucava. Bem antes do Sítio, porém, no cinema, fomos
apresentados a algumas bruxas que marcaram a infância de muitos, pelo menos a
minha. No clássico “O Mágico de Oz”, fomos apresentados às bruxas más do Leste
e do Oeste. À protagonista, a menina Dorothy Gale, foi atribuída à responsabilidade
da morte da Bruxa má do Leste. Por isso ela foi saudada pelos anões, habitantes
da cidade dos Anões. Na trama, ela é perseguida pela bruxa má do Oeste, que
busca vingança pela morte da irmã, a bruxa má do Leste. A surpresa para os
cinéfilos é a figura da bruxa boa do Norte. No imaginário infantil é difícil
vislumbrar a figura de uma bruxa boa, mas...
A bruxa no futebol
No
futebol, que é o nosso campo, afinal, a bruxa é associada às lesões. Quando um
atleta importante se lesiona, diz-se que a bruxa está solta. Voltando um pouco
no tempo, lembro-me do Romário e o quanto ele esteve envolvido em lesões. Às
vésperas das decisões, foram algumas ocasiões. Romário atuou em grandes times
do Rio. Mais de uma vez, na semana das finais, a notícia era de que o Romário
era dúvida para a decisão. Lesão muscular, geralmente panturrilha. No dia do jogo, o Romário
entrava em campo. O suspense era mantido até a hora do jogo. Porém, nos minutos
iniciais da partida, todos os olhos do estádio voltavam-se para o Romário. Lá estava o
Baixinho, sentado no gramado, com a mão na famosa batata da perna. Fim de linha
para o artilheiro.
Às
vésperas da Copa do Mundo, a bruxa “desfila” suas travessuras com mais
intensidade. O próprio Romário foi cortado da Copa de 98, na França, por motivo
de lesão. De repente, nos vimos atônitos com a notícia do corte e diante de um
Romário abatido, às lágrimas, em coletiva, após o anúncio do corte. O Brasil
chorou com o Baixinho na triste Copa da França.
Há
ocasiões em que a bruxa também se dá mal. Em 94, Copa em que o Brasil conquistou
o tetra, o lateral esquerdo Branco esteve muito próximo do corte. Branco foi ao Mundial
sem estar em suas melhores condições. Tinha um problema lombar crônico. Foi
bancado pelo saudoso médico Lídio Toledo. Que decisão acertada a do médico. Nas
quartas de final, contra a poderosa Holanda, foi do Branco o gol da nossa
classificação. Num potente chute, em uma cobrança de falta sofrida pelo próprio lateral. Ao comemorar o gol, Branco, às lágrimas, correu em direção ao médico
Lídio Toledo para agradecer a confiança. A aposta do médico ajudou a seleção a ganhar a sua quarta Copa.
Agora,
em 2022, a história se repete. Várias seleções chegam desfalcadas ao Catar. Fraturas,
lesões musculares, lesões no joelho, ligamentos e outras lesões, foram
responsáveis por mais de duas dezenas de desfalques. Esse ano aconteceu uma particularidade.
Por razões do clima no país sede, de calor extremo no meio do ano, diferentemente do ocorrido em todas as Copas do Mundo, em 2022 a Copa será disputada em novembro/dezembro. Os jogadores chegam ao
Catar, em sua maioria, na metade da temporada. E o tempo de preparação é o mais
curto já visto. Pra se ter uma ideia, os principais campeonatos nacionais somente foram paralisados faltando apenas uma semana para o início da Copa. A plena atividade talvez seja uma
justificativa para tantas lesões.
Listei,
de maneira resumida, 22 jogadores que não irão à Copa por motivos de lesões. Precisamente
duas equipes de futebol.
O
Brasil perdeu o Guilherme Arana. O promissor lateral esquerdo sofreu uma grave lesão
durante a disputa do Campeonato Brasileiro.
A
França foi a seleção que mais sofreu com a ação da “bruxa”. Nada menos que
cinco atletas não poderão jogar a Copa. Pogba, Kanté, Kimpembe, o goleiro
Maignan e Nkunku estão fora. A França, por esses desfalques, perde muito de sua
força. Kanté e Pogba são dois dos pilares da seleção francesa de futebol.
A
Argentina perdeu três peças. Joaquim Correa, Nicolás Gonzales e Lo Celso. Foi a
segunda seleção com mais cortes.
A
Alemanha vai ao Mundial sem o meia Marco Reus e o atacante Timo Werner. Inusitado o que
aconteceu com o craque Reus. Pela segunda vez seguida, ele não vai ao Mundial
por motivos de lesão. Foi assim também em 2018, na Copa da Rússia. Triste sina.
Também
estão fora da Copa Robinson dos Estados Unidos, Tissoudali e Harit do Marrocos, Jesús
Corona do México, Reece James e Chilwell da Inglaterra, Wijnaldum da Holanda,
Diogo Jota de Portugal, Jose Gaya da Espanha e o goleiro Dragowski da Polônia.
Para
encerrar, a ausência mais sentida. Como a cereja de um bolo de gosto amargo.
Certamente produzido em um caldeirão de uma bruxa bem malvada, que vai nos
privar de ver o talento do craque senegalês Sadio Mané. Senegal até tem outros
valores, assim como as outras seleções também os têm, mas o Mané é sem dúvida,
a maior estrela ausente desta Copa por motivo de lesão. Todos os esforços foram
feitos para que o craque pudesse jogar. Inclusive autoridades religiosas locais
levantaram orações para que ele pudesse atuar. Mas a lesão na fíbula, definitivamente, o tirou do Mundial. Infelizmente.
A
nossa torcida, a poucos dias do início da Copa, é a de que a bruxa baixe a sua
bola e passe longe do Catar.
Que
assim seja!
Belo texto, principalmente pelas referências sobre o corte do baixinho. Lembro dessa coletiva... Geral parado do lado de fora da birosca, hora do almoço, e vendo as lágrimas dele.
ResponderExcluirObrigado pelo carinho.
ExcluirParabéns, Luiz Cláudio, paizão, da Julia Luize, mais uma vez demonstrando todo seu talento e dedicação pelo nosso futebol, Americano de convicção , tem em seu currículo uma das mais belas profissões a de Professor, Parabéns ! Um forte abraço de sua Amiga, Noemia
ResponderExcluirObrigado pelas palavras, Noemia. Muito grato!
ExcluirÓtimo texto!!
ResponderExcluirE em relação a França tem um q a mais...
Ainda perderam o Benzema hoje. Agora são sete. Triste.
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